segunda-feira, 1 de outubro de 2007

A Companhia Teatral Nós Outros: um constante laboratório


A Companhia Teatral Nós Outros apresentou, neste último final de semana, no Teatro Waldemar Henrique, o "EXERCÍCIO Nº 01: O HOMEM DO PRINCÍPIO AO FIM", resultado da oficina de Preparação de Atores promovida pela companhia e coordenada por Adriano Barroso e Aílson Braga. No elenco: Ives Oliveira, Mariana Pureza, João Lucas, Mary Ferreira e Hudson Andrade. Aclimatando a cena com guitarras, percussão, violoncello e violino, os músicos Júnior Cabrali e Ray Thomas.

O adaptação do original de Millôr Fernandes faz a trajetória da humanidade de Adão até a bomba H, uma crítica da condição humana com a irreverência e a transgressão típicas do multimidiático escritor carioca. A literatura universal e brasileira perpassa o texto de Millôr, situando essa trajetória da saga do homem em personagens, protestos, poemas e canções.

"Esse exercício é parte de um processo constante de pesquisa da companhia. Neste nos focamos na construção da personagem, na pesquisa dos gêneros teatrais...", comenta Adriano Barroso, que assina a encenação com o parceiro de longa data Aílson Braga.

"Sempre fizemos processos longos de pesquisa. Fazemos oficinas de capacitação dentro dos elementos que compõe nossos espetáculos. A Companhia foi contemplada com o Prêmio Myrian Muniz este ano, para montar 'Comédia de Erros', de Shakespeare, e desde logo este desafio exige a pesquisa da construção da personagem e do dizer do texto. Isso envolve desde o estudo do texto até a dicção, a impostação etc.", explica Hudson Andrade, que atua no exercício e é um dos fundadores dos Nós Outros.

Ives Oliveira e Mariana Pureza faziam faculdade de Biologia e contam como aconteceu essa verdadeira conversão. "Começei no Grupo Cronos e desde então tenho descoberto uma nova escola, uma nova maneira de se auto-conhecer", conta Ives. "O Ives me convidou pra assistir um ensaio, fui ficando e ficando, agora estou aqui descobrindo uma nova profissão", completa Mariana.

"Começamos esse processo por volta de fevereiro ou março, se vendo todas as noites, estudando um ao outro. Descobri que o ator, todo ator, precisa estudar. É uma busca incessante. Não se pode se acomodar com o que está fazendo, se achar o máximo", revela Mari Ferreira. Sobre serem dirigidos por Adriano e Aílson, João Lucas comenta: "Eles não nos dão a chave, deixam a gente descobrir".

A Companhia ainda prepara para o fim do ano a volta de "O Glorioso Auto do Nascimento do Cristo-Rei".

A Companhia Teatral Nós Outros foi fundada por Belle Paiva e Hudson Andrade em 2002. Seu espetáculo de estréia foi Fica Comigo Esta Noite, encenado no Palacete Bolonha (junho de 2002), Casa da Cultura de Castanhal (2002, integrando o projeto Circuito Cultural Amazônia Celular), Teatro Experimental Waldemar Henrique (agosto de 2003) e no Auditório Costa Cavalcanti (março de 2004, integrando o projeto Quintas Culturais Artes Integradas do Banco da Amazônia).

Em junho de 2004 entrou em cartaz Medéia – A Tragédia do Feminino Ultrajado (Instituto de Artes do Pará e Espaço Cultural Ernesto Pinho – Ministério Público do Estado do Pará), baseado no texto de Eurípedes. Ambos os trabalhos tiveram a assinatura de Adriano Barroso e Aílson Braga e refletiram a busca da Companhia por uma linguagem própria, mescla de conceitos e experimentos, cuja regra básica é: O público não pode sair dos nossos espetáculos do jeito que entrou.


*Matéria de Luiz Fernando Vaz

Um comentário:

Unknown disse...

Estão de parabéns: o perseverante Teatro Paraense que não desiste diante dos desafios e continua experimentando e trabalhando e, mais importante sendo reconhecido seu esforço através dos prêmios que vem ganhando e o autor do blog pela iniciativa de debater e dá espaço para se falar do teatro que é feito no estado do Pará de forma imparcial e abrangente. vida longa para os dois!