terça-feira, 25 de setembro de 2007

TP entrevista PAULO MARAT


















Paulo Marat, ator batizado pelo teatro, solta o verbo nessa entrevista concedida ao blog Teatro Paraense. Orgulhoso de sua geração, relembra os tempos que passou pela Escola de Teatro, fala de sua passagem honrosa pelo cinema e avisa ao governo: "Se quiser animar festa que contrate palhaços!"


Teatro Paraense:
Clichê por clichê: falemos do início.

Paulo Marat: Tudo começou por causa de uma paquera, uma aluna da Escola de Teatro da UFPA, quando ainda funcionava lá no campus do Guamá, no Vadião. Eu já via os espetáculos que rolavam no campus e, pra ficar mais perto da garota, me matriculei no campus. Passei no teste e fiz um ano de curso com uma turma muito boa: Claudio Barradas, Marlucio, Mareco... Depois tive que abandonar devido ao tempo muito apertado com as aulas de Educação Artística.

TP: Então fazias Educação Artística?

Marat: Sim, eu sempre gostei muito desse negócio. Mas voltei pra escola alguns anos depois. Adivinha o motivo? Outra garota.

TP: As garotas sempre decidindo o teu destino...

Marat: Nesse tempo eu conheci uma bailarina que era amiga do Miguel Santa Brígida...ficamos amigos...e ele estava coordenando a Escola de Teatro.

TP: Isso foi em que ano?

Marat: 1989. Nesse ano teve o primeiro Auto do Círio com o Amir Haddad. Foi um tempo muito bom. Os professores eram ótimos: Wlad, Miguel, Olinda, Walter, Marton, Teka Salé era preparadora corporal, depois veio a Karine...

TP: Me conta a história do nome "Marat".

Marat: Quando eu voltei pra Escola, a montagem de final de ano era o texto Marat-Sade e eu fiz o personagem do Marat. O processo foi muito forte... Tinha outro Paulo no terceiro ano e pra diferenciar me chamavam de Paulo que fez o Marat...e aí pra pegar foi rápido...Eram duas turmas na montagem, o primeiro e segundo ano, disputa de personagem... era um perigo! Você podia acordar com a boca cheia de formiga no outro dia.

TP: E como foi ser dirigido pela Wlad Lima?

Marat: Na primeira montagem, eu sofri muito... cheguei até a chorar: "Não vou conseguir...Não quero mais" Pura frescura... Depois ensaiei um espetáculo chamado Os Palhaços alguma coisa ...não me lembro bem. Já foi melhor... Mas realmente fiquei apaixonado por ela ...devido os detalhes que ela queria ver em cena. Ela se empolga com você, ela ri com você, ela pensa com vc, vira amiga da montagem. Agora se você for sem nenhuma base de pesquisa...ela manda tu te fud* e fala que tem mais o que fazer... Ator criador: é isso o que ela quer.

TP: A Wlad provoca mesmo...

Marat: Hoje ela continua me provocando, mas de uma maneira diferente...

TP: E como foi pra você parar dentro de um set de filmagem?

Marat: O primeiro curta que eu fiz foi "O Morto"do Ronaldo Rosa. Uma produção modesta, mas muito competente que tinha a direção de elenco da Wlad e a produção do Cláudio Barros. A Escola de Teatro foi a base da procura do elenco, como eu já tinha essa cara de bandido...foi rapidinho. Eu fazia um serial kiler que matava crianças. Foram 2 semanas de filmagem em vários pontos de Belém. O Filme foi pro festival Guarnicê em S. Luis. O governo do estado bancou passagem...Super chique com tapete vermelho e tudo.

TP: Lá você conheceu a Dira Paes...

Marat: Ela me deu uns toques sobre as diferenças entre cinema e teatro. Depois eu fiz um curta pra uma ONG, dirigido pela Marluce Oliveira, mas nunca vi o filme...

TP: E o Açai com Jabá?

Marat: Quando os diretores ganharam o premio pra fazer o filme , chamaram o Cláudio pra fazer a seleção dos atores.

TP: Aquela camisa do Paysandu, que era aquilo?

Marat: Um dos diretores que é Paysandu doente pergunto para qual time eu torcia. A camisa que eu usei no filme é dele. Eu brincava no set com as pessoas que iam ver a filmagem. Alguns perguntavam:" Por que essa camisa...?"E eu enrolando a lingua pra parecer de fora... Eu dizia: "Pô, sabe o que é? A gente é do Rio e achamos essa camisa a mais bonita de todos os times de Belém. Foram 15 dias de filmagem e dezoito litro de açai do especial.

TP: Você trabalhou com a Nilza neste curta. Como é atuar com a nossa dama do teatro?

Marat: A Nilza é maravilhosa, de uma simplicidade e de um carinho com todo mundo. Não se tem noção do que ela representa pro cenário artistico paraense.

TP: Voltemos ao teatro... Quando estreastes na direção? Como foi?

Marat: Também em 1989 conheci uma turma da Cidade Nova e fui ver um ensaio que eles estavam fazendo na garagem da casa de um deles. Tinha lá umas trinta pessoas, que faziam teatro na Igreja católica. Era um espetáculo sobre o aluno mal e o aluno bom com diabinho e anjinho, essas coisas... Consegui convencer o que coordenava o ensaio a começar uma nova montagem e assim começou o grupo Anthares. Montamos o espetáculo "Não", uma adaptação de Romeu e Julieta sem texto. A única palavra que entrava era "Não", dita pela figura do padre que dá o veneno pra Julieta. Foi todo ensaiado na Cidade Nova, em uma garagem. Fizemos temporada nas praças....maior sucesso....fizemos iluminação de lata, com mesa de luz e tudo. Tinha um ator que tinha aquelas canetas de "laser", ele focava no sensor dos postes da praça para que eles apagassem e a nossa iluminação tivesse efeito. Fizemos uma temporada no Sesc da Cidade Nova e no Sesc de Castanhal. Daquela turma, dois estão em São Paulo fazendo e vivendo de teatro. Eram 21 atores, uma loucura.

TP: Falando em "viver de teatro", como você avalia o fazer teatral na cidade hoje?

Marat: Está começando a melhorar. Nós como diretores e atores, nunca aprendemos a fazer produção...Produção é outra coisa. O diretor não pode fazer produção, porque se não entra o coração e aí vai a merda. Vai gastar mais do que tem e lá vai...Temos exemplos muito bons de boas produções, como O Palha, o Cuíra, O Gruta, a Inbust, a Cia atores Contemporâneos, a Dramática. Muitos voltando à cena...

TP: Estão todos, mais ou menos, procurando um caminho independente de apoio governamental ou da mídia...

Marat: Eu acho que a saída é os grupos terem seu espaço independente de governo. Se nosso produto for bom o governo vem e compra. Não queremos esmola. O governo tem sim é que nos reapeitar enquanto fomentadores de cultura. Se quiser animar festa que contrate palhaços!

TP: O que é o Kaos?

Marat: O Kaos faz parte de um projeto maior da Dramática, chamado de Pão Nosso de Cada Dia. A idéia é sete atores falarem de sua visão sobre a criação do mundo relacionado aos sete dias da semana. Isso independente de crença religiosa. Fazendo essa ligação também com o processo de criação de um espetáculo. O Kaos sou eu quem faço... A rua, a praça aos domingos... Só lembra caos, não é?...Então daí eu saio com uma bikesom, tentando contar como tudo começou e como nós temos que tomar cuidado com o tempo, pois pode não dar tempo de você curtir o dia... Nisso eu falo de Deus, celular, carnaval, macumba, e até do bicho homem.

TP: Pode soltar o verbo Marat...

Marat: Acho que a classe artística paraense tem que parar de falar mau dos outros artistas e ver mais o trabalho dos amigos pra quem sabe aprender um pouquinho mais.


*Por Luiz Fernando Vaz



























sábado, 22 de setembro de 2007

Usina de Teatro ensaia "O Auto das Sete Luas de Barro", de Vital Santos







"O Auto das Sete Luas de Barro", de Vital Santos é a peça que a Usina de Teatro da UNAMA pretende mostrar brevemente ao público. Trata-se da vida e da obra do Mestre Vitalino, ceramista e artista popular consagrado pelo talento de moldar bonecos de barro. Nativo de Caruaru, no sertão pernambucano, o mestre criou escola com a sua arte simples que retratava o cotidiano sofrido do povo nordestino.


"Mestre Vitalino teve um destino igual ao de muitos artistas populares. Ele é da mesma estirpe genial de um Mestre Verequete ou de um Mestre Cupijó, que são artistas daqui da nossa terra. Apesar de ter tido um reconhecimento imenso de sua obra ainda em vida, ainda amargava dificuldades imensas para viver de seu trabalho, não obstante a importância e a beleza de sua obra.", diz Paulo Santana. "Vamos falar da cultura do povo nordestino com alegria, como se estivessemos falando da nossa. É impossível transmitir para os atores a vivência de um povo que não está diretamente no seu sangue, mas a energia e alma popular brasileira está em todos nós. Falando deles falamos de nós e vice-versa", continua.

A Usina de Teatro da UNAMA é composta por alunos da instituição e por pessoas da comunidade. "A comunidade que circunda o campus da Alcindo Cacela, principalmente da Pedreira e do Umarizal, espera nossos trabalhos, inclusive cobrando. Alguns atores são até parados na rua e lhes perguntam: "Ei! Quando vai ter peça de novo?", comenta o coordenador do Setor de Artes Cênicas e Musicais da universidade.

"Em uma década de história, a Usina tem muito o que contar", continua o diretor," já foram realizadas diversas montagens e adaptações, inclusive premiadas, tais como: 'O Silêncio é de Ouro, A Palavra de Latão' , de Gian Francesco Guarnieri, com premiação na XV Mostra Estadual de Teatro do Pará, em 1999, promovido pela Federação Estadual de Atores, Autores e Técnicos de Teatro; 'Auto da Barca do Inferno', de Gil Vicente; 'Ubu – Uma Odisséia em Bundalelê', inspirado na obra Ubu Roi, de Alfred Jarry; 'Prelúdio', de Waldemar Henrique; e 'De uma noite de Festa', de Joaquim Cardoso; "Cancão de Fogo", de Jairo Lima e agora essa obra-prima do Vital Santos."

Os atores e atrizes da nova montagem estão tendo aulas de preparação corporal com Luiz Fernando Vila Nova, acompanhamento de fonoaudiólogo e ensaios quase diários. "Está sendo muito difícil. Interpretar uma criança não é fácil. Tenho observado crianças nas ruas e isso tem me ajudado", comenta Thyago Freitas, ator que está interpretando Vitalino quando criança e é bolsista da universidade.

"Acho que nós vamos mostrar esse texto da maneira que o Paulo exige. É meu primeiro espetáculo", acredita Duda Moraes, que interpreta Vitalino adulto. Lucas Girard, que interpreta a fase mais conflituosa do Mestre Vitalino, desiludido e entregue à bebida, completa: "Ele materializava o sofrimento do povo no barro. Ver além do homem ingênuo, do Nordeste, ultrapassando os estereótipos é difícil.

Sobre o autor Vital Santos

Teatrólogo pernambucano, iniciou a carreira na cidade de Caruaru, Pernambuco, onde em 1966 foi um dos fundadores do Grupo Evolução. Em 1967, escreveu sua primeira peça: "Feira de Caruaru".

Com a peça "Rua do Lixo 24", escrita em 1968, ganhou cinco prêmios no Festival Nacional de Teatro (realizado em 1969) e percorreu o Brasil inteiro. Com a peça "O Auto das Sete Luas de Barro" (uma biografia do ceramista Mestre Vitalino) ganhou vários prêmios, entre os quais o Prêmio Molière; Mambembe; da Associação dos Críticos de Arte de São Paulo e o Prêmio Governador do Estado do Rio de Janeiro. Outra peça ganhadora de vários festivais nacionais de teatro foi "O Sol Feriu a Terra e a Chaga se Alastrou".

Vital Santos é um pernambucano de fácil comunicação, nascido e criado em Caruaru, uma das mais importantes cidades do agreste, que entendeu, desde cedo, que de nada adianta a (in)formação intelectual alienígena, sofisticada, sem estar com o pé na terra - nem sempre generoso do Nordeste, assolada por problemas que o homem, apesar de tudo, sabe enfrentar. Por isso, há muitos anos que vem desenvolvendo uma dramaturgia profundamente brasileira, escrevendo sobre as coisas do povo, utilizando seus valores, símbolos e conceitos em 14 peças, 8 das quais já encenadas e três premiadas. Seu entusiasmo, amor e dedicação pela cultura popular foram reconhecidas e mesmo não sendo político acabou sendo designado para a Secretaria de Turismo e Cultura daquele município.

* Matéria de Luiz Fernando Vaz

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

TP entrevista CARLOS HENRIQUE VIEIRA


Carlos Henrique Vieira, paraense, 35 anos, é figurinista, carnavalesco, aderecista e cenógrafo formado pela Escola de Teatro da UFPA. Debutou na cenografia há quase cinco anos com o ousado cenário do espetáculo "Van Gogh, por Antonin Artaud", dirigido por Paulo Santana e encenado pelo Grupo de Teatro Palha, levando, logo de cara, o prêmio de Melhor Cenário na XX Mostra Estadual de Teatro da FESAT.
Carlos Henrique fala um pouco da sua descoberta do teatro, do prêmio da FESAT, de sua experiência no Carnaval, de sua parceria com Paulo Santana, de sua formação, influências, Escola de Teatro da UFPA e a cena teatral.

Teatro Paraense: Como aconteceu seu contato com as Artes Cênicas?

Carlos Henrique: Foi ocasional. Nada intencional. Tudo começou quando resolvi aceitar um convite para criar o figurino da peça "Ubu Rei, de Alfred Jarry", da Usina de Teatro da UNAMA. Confesso que fiquei meio inseguro pois nunca tinha feito nada pra teatro. Mas já começei certo porque eu começei pela leitura da dramaturgia que me subsidiou uma compreensão mais próxima do que o diretor pedia. Os desenhos foram dando certo, ainda bem... Aí fui me envolvendo cada vez mais na encenação e o que eram apenas desenhos, se desdobraram em material para o trabalho do ator. Isso foi me apaixonando. Dai não teve mais volta.

TP: Quer dizer que você já desenhava antes de fazer os figurinos dessa peça?

Carlos: Sim. Desenhava, eu acho , desde o útero da minha mãe (risos). Era meu passatempo desde pequeno. Desenhava muito, riscava tudo. Minha mãe dizia que eu não deveria desenhar na areia pois o tempo apagava... Desenhava por desenhar, me expressava, eu acho. Tinha uma obsessão por desenhar o corpo feminino, enchia cadernos, buscava aquela perfeiçao. Acho que isso foi melhorando cada vez mais meu traço. O mais intrigante é que eu não desejava ser desenhista, não tinha esa finalidade... Eles precisavam sair e eu os desenhava. O mais irônico foi que, antes de fazer os desenhos que se tornariam figurinos do "Ubu", eu não desenhava há três anos de tão ocupado que estava.

TP: E cadê esse desenhos dessa fase profícua?

Carlos: (Risos) Ixi! Perdi todos....Nunca guardei, ninguém guardou... Dei alguns, eu acho...

TP: E você fazia o quê antes do Teatro?

Carlos: Antes dava aulas de reforço de matemática, português, redação, física. E estudava, estava no segundo ano de Economia na UFPA.

TP: Nossa! Da economia para os palcos... Que distância!

Carlos: É verdade! Sempre tive em contato com as Ciências Exatas, esse universo frio de cálculos, fórmulas, gráficos...Talvez tenha sido por isso que o mundo de Teatro, o mundo da criação, do imprevisível subjetivo da Arte tenha me arrastado com tanta força. Era a tentação da mudança radical, do mundo racional para o frio na barriga do palco e do resultado que nele acontece. Acho que o poder de criar transforma. Faz bem essa adrenalina toda.

TP: E como foi ganhar assim, logo de cara, começando, o prêmio do festival da FESAT em 2004 com o cenário do "Van Gogh"?

Carlos: Eu fiquei bastante surpreso. Porque o cenário que eu fiz deu muito trabalho e foi o primeiro realmente autoral. E eu não tinha experiência do que poderia dar certo ou não em cena no palco. Ao mesmo tempo imaginava que os outros grupos já estavam mais além do que eu poderia fazer no momento. Fiquei surpreso com o prêmio do cenário e com a indicação a Melhor Figurino do "Burrinho Pedrês". Isso me mostrou que eu poderia estar no caminho certo.

TP: E como surgiu o carnavalesco Carlos Henrique?

Carlos: Aí a estória se repetiu. Nunca gostei de carnaval, de desfile de escola de samba. De repente, fui convidado pela Acadêmicos da Pedreira. Outro desafio enorme. Tive que lidar com muita gente, com um tempo pequeno, com uma responsabilidade de manter uma tradição. Vestir duas mil pessoas não foi fácil. Mas, com certeza, foi o teatro que me abriu essa porta. Mas é inegável que minha habilidade com o desenho é meu carro-chefe.

TP: E como é criar ao lado do polêmico Paulo Santana?

Carlos: Pesa muito menos criar ao lado dele. Ele tem uma visão, uma experiência global do teatro que te deixa seguro. É um profissional completo. Ele não sabia pôr no papel toda a sua loucura de criador e meus desenhos congelaram aquilo tudo em forma, em execução. Não acho ele polêmico. Acho ele exigente. Ele sabe o que quer, tem conhecimento de causa. Ter o rigor dele ao nosso lado é muito empolgante. Ele é muito flexível. Briga pelo que ele quer mas cede quando percebe o êxito do esforço das pessoas. O resultado disso o público conhece.

TP: Você se formou em cenografia pela escola de Teatro da UFPA. Como é a sua avaliação do curso e da própria escola de Teatro?

Carlos: Bem, quando eu entrei eu já tinha uma experiência de vários espetáculos, que tinham exigido muito de mim. Inclusive, no momento que eu entrei, estava fazendo o Carnaval do Acadêmicos. Isso fez com que eu exigisse que o curso me desse embasamento para o que eu fazia e conhecesse mais material para que eu trabalhasse na área. Até porque em Belém não tem nada que te ensine a ser cenógrafo. Minha avaliação é que naquele momento da minha entrada no curso a escola não estava preparada pra formar cenógrafos. Foi uma relação de muita exigência de toda uma turma de cenógrafos e profissionais diante de um corpo docente que não nos passava muita segurança no que ensinavam. Estavam todos tentando acertar, alunos e professores. Ainda estão tentando. De uma turma de 25 restaram seis para se formar.

TP: Quer dizer que não valeu a pena?

Carlos: Valeu a pena sim... É claro! Fez com que eu percebese que o cenógrafo, o carpinteiro teatral têm que conhecer os materias e as ferramentas do seu trabalho na prática. E a falta dessa prática na Escola fez eu perceber que isso era crucial, pois o que eu fazia lá fora me exigia aquilo e continua exigindo de todos nessa profissão. Mas o melhor foi a oportunidade de exercitar a criatividade diante da escassez de recursos. O curso, apesar das dificuldades e dos erros, provou ser de fundamental importância para a cidade. Muitos dos meus companheiros que cursaram comigo passaram agora nesses últimos concursos da Secult e da Fundação Tancredo Neves. Maravilha! Vão trabalhar dentro dos nossos teatros. Quem sabe eles não mudam essa realidade do artista entrar no teatro e ter que lidar com um cara que acha que subir ali e acolá pra pendurar um cenário é exagero. Quem sabe com cenógrafos, figurinistas e aderecistas amantes do teatro haja mais empenho daqueles que nos recebem nos teatros!

TP: Mas já rolou essa situação?!

Carlos: Rola, mas também não é sempre. Agora mesmo que os funcionários dos teatros, pressentindo a demissão e a substituição, estão se negando a fazer as coisas, ou fazendo com cara feia e má vontade. Quando tem que dar assistencia ao cenógrafo, ao iluminador, ao sonoplasta, para que ele adapte seu trabalho ao teatro, eles, ás vezes, dificultam e fazem serão. Isso é irritante. Coloque aí que não são todos. Mas basta um com esse espírito de porco pra tornar o clima insurpotável.

TP: Você viajou pela Caravana Funarte com o espetáculo "Nu Nery", do grupo de teatro Palha, dando oficinas. Que eram essas oficinas e como foi a experiência?

Carlos: As oficinas tinham muito a ver com a minha experiência de trabalhos nos grupos. Falava dos materiais que eu utilizava pra fazer os cenários. O título era "A Construção do espaço Cenográfico com materiais alternativos: o regional e o reciclável". Na verdade, era mais um bate papo, uma exposição do nosso fazer aqui da região. O tempo era pouco, não dava pra ensinar uma prática em 4 horas sobre os vários materias de que falava. Mas foi magnífico! Foi uma troca de experiências e idéias com os públicos locais maravilhosa. Teve uma procura muito grande de vários profissionais e aprendi mais com eles do que eles comigo(risos).

TP: Quais são as suas influências principais no seu fazer teatral?

Carlos: Gosto muito de assistir cinema e imaginar a confecção de cenários, a concepção. A estética fantástica do cinema me fascina. Queria muito que meu trabalho, o nosso trabalho se aproximasse daquilo que é feito no cinema. Mas trazendo o assunto mais para a nossa realidade, fico com o trabalho do J. C. Serroni. O pioneirismo dele, do José de Anchieta, do Flávio Império. A Daniela Thomas é outra maravilhosa. Svoboda, é claro, não podia deixá-lo de fora....

TP: Como você avalia a cena atual do teatro na cidade de Belém?

Carlos: Eu acho que ele tá buscando um profissionalismo maior dos atores, dos profissionais. Mas na prática do que legalmente, o artista de carteira assinada, com seus direitos e tal. Mas existe uma grande vontade que já tá movendo os grupos. Eles estão inaugurando sedes próprias(como o Cuíra) abrindo pautas e ficando em cartaz. Pra dar uma guinada é necessário urgentemente também um curso de Artes Cênicas de nível superior na cidade, que englobe não só o ator mas também toda a carpintaria do teatro. Ainda têm muito por se lutar. Mas esse aí é um bom caminho.


*Por Luiz Fernando Vaz